Caixas e caixinhas

domingo, 20 de maio de 2012

Selada por tempo indeterminado...

Foi à cerca de 6 anos que abri esta caixinha virtual, enquanto Pandora, de forma a registar as minhas aventuras e desventuras e poder dar forma a um registo que sempre adorei: a escrita. Comecei ainda novinha com os diários perfumados com chaves e tudo, depois passei para as folhas dos cadernos da escola e quando a escrita e poesia era dirigida a alguém, passaram a preencher folhas lisas soltas, para poderem chegar ao destinatário. Sempre tive a ideia que quando se escreve para alguém, essa mensagem tem como objectivo último, ser lida e apreciada (ou não) por alguém. É como uma música que é escrita na pauta mas que só vive se a transformarmos em sons, para que alguém a possa ouvir. 
Penso que com o passar do tempo, este meu "diário virtual" passou de um registo entusiasta dirigido principalmente ao então meu noivo e amigos, pautado pelos preparativos do casamento, o nascimento do meu filho e a criação da minha empresa, para um registo melancólico, pautado com a ansiedade da falta de saúde, minha e de outros que me são próximos e sobretudo da falta de entusiasmo e espectativas que surgem nesta fase da minha vida. A situação e a conjuntura actual não é de todo favorável a novos planos e pior que isso, está a sufocar a nossa vida quotidiana. Quando olhava de longe para o número deste ano, imaginava outra realidade muito mais consistente, com mais alegrias e sobretudo, menos angústia e sofrimento. São situações que isoladamente são ultrapassáveis, mas o facto de surgirem em catadupa fazem com que eu nem tenha tempo de me restabelecer. Logo agora que tenho que estar mais concentrada, mais alerta, para lutar e vencer! Infelizmente (ou felizmente) aprendi desde cedo, que o que as pessoas menos querem é estar/lidar/falar com uma pessoa depressiva e com discurso derrotista e talvez por isso eu me recuse a ser uma! Tento estar no meu melhor quando estou com os meus familiares e amigos, pois o tempo que temos disponível por vezes é tão pouco, que temos que o aproveitar da melhor maneira, de uma forma alegre e descontraída. Muitas das vezes dois dedos de conversa são o suficiente para levantar o nosso astral e o da outra pessoa (pelo menos eu penso assim). 
E precisamente para colmatar essa falha, na vida quotidiana-de-uns-para-cada-lado-e-de-lidarmos-sempre-com-as mesmas-pessoas, que criei o blog. Não chateava directamente as pessoas, não lhe tirava "direito de antena" (que isto de ser só ouvinte é também muito chato) e criei uma forma de as pessoas continuarem a estabelecer contacto comigo, serem espectadoras e intervenientes (se assim o entendessem) mas sobretudo terem a oportunidade de serem minhas confidentes. Achei que era perfeito, mas enganei-me. Porque o que acaba por me acontecer é que com a falta de tempo, tenho menos oportunidade de me dedicar aos posts e que acabou por enfatizar uma característica muito minha; é que a escrita é um escape para minha angústia. Como ultimamente elas tem sido mais que muitas, parece que só me dá ganas de escrever coisas deprimentes e melancólicas (e vocês numa leram um poema meu! Sou aquilo que se pode considerar uma lolita gótica da escrita.Isto existe?). E por isso, isto não está a resultar nem para mim, nem para vocês que me estão a ler.
(isto está a começar a parecer uma carta de quem quer acabar um relacionamento amoroso!...) 
Acabo por ter que falar por meias palavras, porque poucas pessoas tem o privilégio de saber o que se passa na minha cabeça, alma e coração. Sabe-o apenas pessoalmente, quando há abertura para tal. Não é por mania ou egoísmo, mas porque a vida já me ensinou que por vezes não se pode confiar em ninguém, nem na nossa própria sombra! E porque o tempo e o silêncio, apesar de tudo,  continuam a ser os melhores conselheiros. Se num dia as coisas correm mal com alguém, não devíamos ir a correr dizer mal dessa pessoa, mas esperar que a poeira assente e depois reflectir, colocar-nos do lugar da outra e por vezes dar-lhe uma segunda oportunidade (ou terceira, ou quarta...) Como já uma vez li Não confunda minha personalidade com minhas atitudes. Minha personalidade é quem eu sou. Minhas atitudes dependem de quem você é.
Adiante, isto tudo para dizer que tenho a perfeita consciência que já não consigo cativar mais ninguém para ler este meu blog. Não tenho coisas giras para mostrar/vender, nem tenho coisas muito animadas para dizer. Lamento, mas é tudo o que aqui se pode oferecer neste momento. Vou ter que canalizar o meu "Lado Lunar" para outra trajectória, porque não é isto que eu idealizei para o caixas e caixinhas. Agradeço às pessoas que tiveram a paciência para lerem o que por aqui foi sendo escrito, agradeço a alegria e a preocupação que me foram transmitindo consoante as situações, vai-me fazer falta o pouco feed-back que ainda ia havendo, mas acredito que selar esta caixinha é o melhor que há a fazer neste momento. 

Sim, porque a Pandora continua a acreditar que a Esperança é a última a morrer e não quer que ela escape da caixa por nada deste mundo! Quem sabe um dia a Pandora queira abrir de novo a sua caixa e deixe vir à luz do dia os seus sonhos mais bem guardados? Quem sabe?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Não sei onde isto vai parar

Pois bem, quase um ano depois da última publicação, não tenho muito a dizer, além de tudo o que já foi sendo dito por aí, gritado, sussurrado, pensado... As palavras e as expressões são sempre as mesmas.
Crise. Desemprego. Poupar. Dificultades. Isto está mau. Não sei onde isto vai parar.
Mesmo que uma conversa comece com um outro intuíto, acaba sempre por ir ter ao tema da crise. Uma pessoa até tenta nem pensar nisso, abstrair-se, concentrar-se no que é importante, mas mal liga a televisão, mal troca dois dedos de conversa com alguém, pumba, lá ficamos com a depressão instalada! Depois desliga-se a televisão, despedimo-nos das pessoas e quando ficamos sós, com os nossos botões só nos apetece bater em alguém! Mas que raio! Tinha que vir por aí fora uma crise financeira para nos derrubar o pouco que construímos e nos destruir os sonhos? 
É que há coisas que não podem ser muito tempo adiadas... É que há coisas que tem que ser... agora! É que agora começar do zero, num outro lugar não é uma coisa muito simpática! Mas infelizmente é o que tem acontecido com muita boa gente e se calhar comigo não vai ser muito diferente... 
É que quando assistimos de perto o desmoronar da história de pessoas que nos são próximas, é muito dificil conseguirmos continuar de pé e não desanimar... Por isso é que eu ultimamente tenho dito, como a maioria das pessoas que sentem todos os dias o efeito nefasto da crise, "não sei onde isto vai parar!..."
E também não sei onde vou parar...
Se calhar vou parar ao Pingo Doce, da próxima vez que fizerem descontos de 50%!...
(Valha-me o meu sentido de humor ao menos!...)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Coisas que me fazem feliz

... receber um beijinho e um abraço ternurento do meu filho.
... ouvir uma boa música no carro, enquanto conduzo.
... o meu ritual de tirar café na máquina do escritório, todas as manhãs.
... estabelecer contacto com os meus amigos, mesmo que estejam a kilometros ou a milhas de distância (abençoada internet!).
... o olhar de cumplicidade do maridinho em todas as vertentes do nosso dia-a-dia.
... assistir aos progressos do pequenino e ficar inchada de orgulho.
... relaxar no sofá e espreitar programas-de-gajas na televisão.
... receber família e amigos em casa (apesar de toda a azáfama, compensa tudinho!).
... passar horas e horas a projectar os sonhos dos outros (não me imagino a fazer outra coisa!)
... praia (que saudades das grandes tardes de verão nas férias grandes...)
... ver um bom filme ou ler um bom livro (para este último não tem restado lá muito tempo...)
... olhar para trás e ver de onde vim, estar orgulhosa de quem sou e que afinal fazia tudo de novo!
Afinal a minha vida é uma benção!!!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eclodir

Sinto-me cansada, saturada, irritada com tudo e com todos e, principalmente, comigo própria. A frustação instala-se, apesar de andar a fintá-la à muito... Como faço para consegui? Fazer com que resulte? Estou farta de trabalhar, trabalhar, trabalhar, como uma formiguinha, quando o que queria mesmo era abrir as asas e voar, tal qual uma borboleta, e ver o mundo lá fora....
p.s. A precisar de férias, sem dúvida alguma!

domingo, 22 de maio de 2011

?

Será que isto ainda funciona?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Um dia...

...muito difícil... Mas como hoje até é quarta-feira de cinzas, tenho a esperança que exista algures em mim uma Fénix que renasça das cinzas... à espera de dias melhores...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cinco ervilhas numa vagem


"Numa vagem, estavam cinco ervilhas. Estavam ainda verdes e verde era também a vagem; por esta razão acreditavam que o mundo era verde; - que o leitor se considere na posição das ervilhas, e facilmente perceberia esta ilusão. Cresceu a vagem, cresciam as ervilhas, tendo sempre o cuidado de se conservarem bem alinhadas e nas respectivas distâncias.

O sol aquecia a vagem; a chuva e as gotas de orvalho a tornavam clara e transparente, e assim, durante o dia, gozavam as ervilhas uma doce claridade e durante a noite as trevas lhes favoreciam o sono. Mas, crescendo, tornaram-se sérias e cismadoras.

- Então, ficaremos sempre aqui?, disse uma delas. Muitas coisas há de haver lá fora dignas de admiração. Passaram algumas semanas e elas amareleceram.

- Agora está tudo amarelo, diziam as cinco ervilhas; muitas voltas dá o mundo.

Subitamente, sentiram uma viva comoção; um homem arrancara a vagem e a lançara num cesto com muitas outras.

- Ora, enfim, vamos ter a liberdade, disseram as ervilhas; e esperavam com impaciência o grande e venturoso momento.

- Qual de nós irá mais longe no mundo, e chegará a uma posição mais elevada? Disse a mais pequena das cinco. Em breve o saberemos.

- Seja feita a vontade do Senhor! Disse a maior, com sincera resignação.

Traz! Abriu-se a vagem: e as cinco ervilhas rolaram na mão dum rapaz.

- Oh! que belas balas para a minha espingarda! Exclamou ele, e meteu uma no tubo de lata e largou a espiral.

- Vou correr mundo, pensou a ervilha cheia de entusiasmo. E desapareceu. O rapaz introduziu a segunda no cano.

- Agora vou parar ao sol, pensou a ervilha, descrevendo a sua parábola. Que vagem tão quentinha que hei de lá ter....

As três ervilhas restantes, menos ambiciosas, assustaram-se vendo as grandes cambalhotas das suas companheiras, e deixaram-se escorregar e cair no chão; mas o menino apanhou-as também, dando lhes o mesmo destino.

- Chegou a minha vez, disse a última, cumpra-se a vontade do Senhor! E foi cair na janela duma casa pobre, antes uma choupana, numa fenda cheia de musgo e terra.

O musgo em breve cercou e envolveu o pequeno grão. Na choupana morava uma infeliz mulher que vivia de fazer recados e de pesados trabalhos. Aceitava os trabalhos mais custosos, porque era forte e corajosa e era mãe. Sua filha, uma linda criança loura, mas extremamente pálida, flutuava, havia quase um ano, entre a vida e a morte.

- Também esta vai para o céu, pensava a pobre mãe; vai juntar-se à irmãzinha. Meu Deus! Já me levastes uma, deixai-me esta, Senhor! Voltou-se para a menina e disse-lhe: "Estás tão doente, tão fraca, parece-me que não escapas, filha!".

Chegou a primavera e, uma manhã, quando a mãe ia sair, o sol, rompendo a neve iluminou com tal intensidade a janela da choupana, que a doente olhou para lá admirada.

- Parece-me, disse ela, ver o que quer que é, a tremer, ali na janela. Que é?

A mãe abriu a janela.

- Olha a graça! Disse ela, é uma ervilha que está aqui entre o musgo; já tem umas folhinhas; como viria ela aqui parar?

- Não a arranques, mamãe, deixa e veremos se ela cresce muito...

- Não, filha, não a arranco. Queres vê-la mais de perto?

E aproximou o leito da janela, para que a filha visse melhor a planta delicada; depois abraçou-a e saiu.

À noite, assim que entrou, disse-lhe a pequena:

- Já estou melhor, fez-me bem o calor do sol, e olhe, vendo como a ervilha ali nasceu e vai crescendo, pensei que me havia de curar e que o sol e o ar me fariam bem.

- Queira Deus! Respondeu-lhe a mãe, ainda assim com bem pouca esperança.

No dia seguinte a pobrezinha rodeou a ervilha com pequenas estacas; passados dias as hastes verdes e sarmentosas se entrelaçavam cheias de viço e frescura, e não tardou muito a aparecer a primeira flor.

- Feliz presságio! Pensou a mãe, e começou a ter também esperanças na cura da pobre criança. A doentinha falava já com mais animação; levantava-se e assentava-se sem ajuda, e olhava sempre com o maior prazer, com afeição até, a planta que revestira a janela com um cortinado de verdura. Uma semana mais tarde, podia ela já estar algumas horas fora do leito, todos os dias. Assentava-se junto da janela e aí, em companhia das flores alvas e rosadas, gozava da suavidade do ar e do calor do sol.

- Foi o bom Deus, dizia a alegre mãe, foi o bom Deus, minha filha, que fez crescer a pobre planta numa fenda cheia de musgo para que o seu aspecto alegrasse os teus olhos e nos desse a ambas coragem e esperança.

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E as outras ervilhas? Que seria feito delas? Uma caíra num telhado e foi engolida por um pombo, e a mesma sorte tiveram as outras duas; sempre serviram para alguma coisa. A outra, a tal que desejava ir para o sol, caiu mesmo no meio da regueira, e aí ficou, na lama, cada vez mais inchada.

- Se isto continua, dizia ela, arrebentarei sem dúvida. Estou certa que nenhuma outra ervilha atingiu um tão colossal desenvolvimento; das cinco que estávamos na mesma vagem sou eu a mais notável, mas muito mais notável.

Talvez minhas irmãs tenham alcançado posições eminentes? Mas o importante é engordar.

Um dia a menina da choupana, completamente restabelecida, os olhos brilhantes, as faces rosadas, aproximou-se da janela, elevou ao céu as mãozinhas postas e do íntimo do seu coração agradeceu a Deus o ter-lhe restituído a saúde, e o ter poupado à mãe a dor imensa de ver morrer a sua última filha; e depois inclinou o olhar sobre a planta, que tinha as folhas ainda verdes, mas cujas flores haviam já sido substituídas por formosas vagens.

- E tu, minha pobre planta, verde como a esperança e que foste para mim o primeiro sinal da proteção divina, tu não tardarás a amarelecer e a secar. Mas eu não te esquecerei; colherei os teus grãos e todos os anos os teus descendentes crescerão tratados pelas minhas mãos aqui nesta janela; e as suas flores serão sempre para mim as mais encantadoras e mimosas. E a ervilha, confiada nesta promessa da inocente, regozijou-se pensando que o beneficio dela seria útil à sua posteridade.

- Seja feita a vontade do Senhor! Repetia ela. Pobre ervilha como sou, a minha existência limita-se a uma estação; mas como é agradável pensar que hei de sobreviver nos filhos, e que eles serão ainda protegidos pelas recordações que eu deixar! Não será este um modo de ir longe, bem longe no mundo?

E no entretanto a regueira lá ia levando a sua água fétida e turva, murmurando:

- Cá levo a minha ervilha. Tanto engordou, tanto se saturou de lama, que se desfez em podridão. Não deixou nem um gérmen, nem uma lembrança. Serviu apenas para ajuntar alguns átomos sem nome aos que eu tenho já e que servem para alimentar a terra e os animais imundos.

Fim dos por demais ambiciosos! Querem a princípio ir para o sol e quando lhes sucede cair na lama, acham-se tão bem, tão no seu elemento que não pedem mais nada. A este respeito, as ervilhas parecem-se muito com os homens".






Conto de Hans Christian Andersen